Ensinar Português como língua pluricêntrica
Da consciência linguística à consciência da variação linguística
Resumo
Neste artigo, procurarei partir de episódios que me fizeram pensar sobre a minha prática e ir mudando, num movimento de questionamento a partir da aula para a procura de fundamentação linguística no modo de agir pedagógico. Não tenho, portanto, receitas teóricas para aplicar, mas inquietações que me fizeram passar a ter uma perspetiva de “tolerância cultural e linguística” (Duarte, 2008: 15) mais abrangente, colocando a pluralidade linguística no centro do ensino e da aprendizagem da gramática. Se o desenvolvimento da consciência linguística é um objetivo curricular nuclear para tornar o conhecimento linguístico intuitivo das crianças num conhecimento explícito e metalinguístico, o ponto de partida tem de ser o conhecimento prévio das crianças. Ora esse conhecimento linguístico prévio, que os alunos trazem para a aula de língua e que deve tornar-se objeto de reflexão, está “nas cabeças das crianças” (Hudson, 1992: 10) e corresponde às suas vivências linguísticas: o conhecimento da(s) língua(s) familiar(es) que adquiriram, nas variedades geográficas e sociais que usam para nomear o seu mundo, interagir com os outros, pensar e sonhar. Em que língua ou dialeto pensa e sonha cada uma das minhas alunas e dos meus alunos?
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